segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Pela primeira vez, cientistas recriam rosto do hominídeo de Denisova

Há 100 mil anos o cenário na Terra era um tanto quanto diferente: além das diferenças climáticas, as espécies que habitavam o planeta eram outras. À época, vários grupos de humanos andavam por aí, como os antepassados do Homo sapiens, os neandertais e os denisovanos, por exemplo.
Embora se saiba mais sobre alguns desses hominídeos, os denisovanos continuam sendo um mistério para os evolucionistas. Descoberto em 2010 na região da Sibéria, na Rússia, o hominídeo de Denisova foi pouco estudado, já que existem poucos fósseis da espécie disponíveis.
Entretanto, as limitações não impediram uma equipe de pesquisadores de recriar digitalmente o rosto de um hominídeo de Denisova. Segundo o artigo que publicaram no periódico Cell, os especialistas produziram um modelo digital de uma fêmea da espécie com base no DNA encontrado nos fósseis.
Como explicaram em comunicado, os profissionais identificaram 56 características anatômicas nas quais os denisovanos diferiam dos humanos modernos e/ou dos neandertais, sendo 34 delas no crânio. "De muitas maneiras, os denisovanos se assemelhavam aos neandertais, mas em algumas características se assemelhavam a nós, e em outras eram únicos", disse Liran Carmel, da Universidade Hebraica de Jerusalém. Por exemplo, o crânio do hominídeo de Denisova era mais largo que o dos humanos modernos ou dos neandertais, além de possuírem uma arcada dentária mais longa.
Essas descobertas só foram possíveis graças a uma abordagem engenhosa proposta pelos pesquisadores: as inferências da aparência dos denisovanos ocorreram com base em um fator chamado de "metilação" do DNA. De acordo com os especialistas, a metilação nada mais é que um processo natural que marca os genes com um marcador químico, que, então, podem ser analisados.
Ou seja, os pesquisadores procuraram diferenças entre a metilação do DNA em humanos modernos, neandertais e denisovanos, e tentaram determinar como essas diferenças poderiam afetar a aparência física. O estudo foi feito com base em informações já conhecidas sobre a genética, como quais desses genes param de funcionar por determinada mutação, por exemplo.
"Ao fazer isso, podemos obter uma previsão de quais partes esqueléticas são afetadas pela regulação diferencial de cada gene e em que direção essa parte esquelética muda — por exemplo, um fêmur mais longo ou mais curto", explicou David Gokhman, também parte da pesquisa.
Para testar o método, a equipe o aplicou em duas espécies cuja anatomia é conhecida: os neandertais e os chimpanzés — e o resultado teve precisão de quase 85%. Os especialistas acreditam que isso sugere que, embora não seja perfeita, a técnica funciona muito bem.
Como se não bastasse, o trabalho da equipe foi validado novamente no início do ano, quando a mandíbula de um denisovano foi encontrada no Tibete. Comparando os resultados que haviam obtido com o fóssil descoberto, os pesquisadores puderam confirmar que estavam na direção certa.
David Reich, geneticista de Harvard, o estudo é importante não só por lançar luz ao hominídeo de Denisova, mas também pelo surgimento de um novo método científico. "Esse é um estudo altamente original e emocionante, extraordinário não apenas no que diz respeito às descobertas específicas, mas também no que diz respeito a toda a abordagem", disse ao The Guardian.

Créditos: Galileu

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