segunda-feira, 27 de maio de 2019

Uma destas mulheres não é real

Nós nos preocupamos por tanto tempo com a inteligência artificial, que deixamos escapar a possibilidade das aparências artificiais. Humanos feitos em 3D com rostos tão perfeitos que são impossíveis de distinguir de um rosto real já estão entre nós. Um exemplo é a Imma, uma modelo do Instagram que conquistou mais de 50.000 seguidores graças a suas selfies e fotos. Acontece que Imma não é uma pessoa real. Ela é uma ser humana renderizada em 3D. Seu desenho é tão real que ela aparece nesta propaganda acima da marca de cosméticos Kate com duas outras modelos reais e é impossível dizer qual delas não é real (nós te ajudamos: Imma é a do meio).
Imma é criação da ModelingCafe, uma empresa de tecnologia CGI que trabalhou nos jogos Final Fantasy XV, Shin Godzilla, The Legend of Zelda: Breath of the Wild e neste vídeo de turismo para a região de Kyushu, no Japão. Imma foi criada com uma atenção impressionante aos detalhes, como, por exemplo, as raízes escuras em seu cabelo tingido de rosa e a iluminação – além disso, segundo o site SoraNews24, a pele de Imma ficou sob responsabilidade de desenvolvedoras mulheres, o que também pode ser um detalhe importante para a construção da realidade.
Na propaganda acima, ela está posando em uma composição com as modelos humanas Mayben e Aria, usando maquiagem real e virtual criada pelo cabeleireiro e maquiador Torii. Os criadores do anúncio, fascinados pelos filtros de moda e estilo “Kawaii” (fofinhos) do Instagram, queriam ver se poderiam ultrapassar os limites virtuais usando uma modelo 100% falsa. Para realmente vender a ideia, a revista fez uma entrevista publicitária típica com todas as modelos, incluindo Imma. Embora as respostas tenham sido criadas por humanos, não é difícil imaginar que, um dia, a IA possa criar respostas coerentes e fofas para revistas de moda. Dessa forma, tanto a modelo quanto sua personalidade poderiam ser totalmente geradas por máquinas.
Tal como acontece com muitas coisas que envolvem inteligência artificial, há um contraponto ruim nessa história. Para ganhar destaque, marcas estão começando a usar modelos virtuais como Imma, privando modelos reais de trabalho e remuneração – Imma não precisa de um salário ou de um cachê para sobreviver, ao contrário de suas contrapartes humanas. A ModelingCafe quer dar um passo além, criando animações ultra-realistas de Imma que a tornariam quase indistinguível de uma pessoa real.
O SAG-AFTRA, sindicato que representa os artistas americanos, entende a ameaça e recentemente realizou um painel para discuti-la. “Eu cresci em uma época em que me perguntavam: ‘Você ouviu com seus próprios ouvidos? Você viu com seus próprios olhos?. Nós nunca poderemos confiar nisso de novo”, diz a atriz Heidi Johanningmeier em matéria do site Hollywood Reporter.

Créditos: Hypescience

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